CARTA SEMANAL TRIBUNA DOS TRABALHADORES
Caros leitores, a partir da edição número 4 do Boletim Tribuna dos Trabalhadores resolvemos, para manter sua regularidade dentro das nossas possibilidades, que ele terá periodicidade trissemanal. Para suprir nossa comunicação política entre um número e outro, decidimos criar a CARTA SEMANAL.
Nesse primeiro número da CARTA, o Boletim Tribuna organizou uma entrevista com o companheiro Anísio G. Homem, que é militante da Fração Comunista Internacionalista de O Trabalho (FCI-OT). A entrevista se concentra em avaliar a resolução política do Diretório Nacional do PT à luz da situação política do país.
Tribuna – Como você vê a denúncia do Ministério Público contra Lula?
Anísio – Alguém falou que a denúncia faz parte do golpe continuado. Tem razão. O golpe não para com a cassação do mandato da presidente Dilma, isso era apenas uma etapa. O Diretório Nacional do PT, que se reuniu na semana passada, escreveu em sua resolução política o seguinte: “o que pretendem as elites é incriminar Lula, ilegalizar o PT e destruir a esquerda para realizar, sem a sustentação dos votos, um dos mais regressivos e selvagens programas de orientação neoliberal”.
Eu diria um pouco mais, a criminalização de Lula tem em vista a criminalização também da CUT, dos sindicatos, do MST, da UNE, enfim, das mobilizações sociais. É só ver a brutalidade policial contra as manifestações pelo Fora Temer em São Paulo para se ter a ideia da escalada repressiva em curso no país. O governo ilegítimo de Temer tem consciência de que as medidas que pretende pôr em prática são profundamente impopulares e serão enfrentadas com muita luta, como já começa a acontecer. Deste ponto de vista a defesa de Lula – ainda mais que as acusações contra ele são confessadamente feitas não com base em provas, mas em convicções políticas – é a defesa do direito democrático dos trabalhadores, dos jovens, dos sem-terra poderem se organizar para defender suas reivindicações.
Tribuna – O Diretório Nacional do PT, com a presença de Lula, aprovou a campanha pelo “Fora Temer, diretas já”, isso dá conta de apresentar uma saída política para a situação?
Anísio – A resolução do Diretório diz o seguinte, em um trecho: “Conclamamos os movimentos sociais, os trabalhadores e trabalhadoras, a juventude, os intelectuais, os juristas e todos os democratas do Brasil a uma ampla mobilização pelas Diretas Já, com a reforma do carcomido sistema político”. Ou seja, a direção do PT reconhece que não temos que resolver somente o problema de um presidente ilegítimo para estabelecermos uma verdadeira democracia no país, também temos que superar o deformado e corrompido sistema político – o que inclui o atual Congresso Nacional golpista - que carrega em si vários resquícios autoritários herdados da ditadura. Mas, infelizmente, apesar dessa constatação, a direção nacional do PT evitou ligar às diretas já à luta por uma Constituinte exclusiva e soberana, o que na prática acaba por deixar o Congresso Nacional golpista em paz nesse momento.
Se eu fosse membro do Diretório Nacional teria feito uma emenda para acrescentar à luta pelas diretas para presidente a exigência de se ter a eleição de deputados para uma constituinte exclusiva e soberana. Não dá para desconsiderar que os golpistas contam com a maioria de canalhas do atual Congresso para destruir os direitos assegurados pela Constituição e impedir avanços sociais. Quando Lula foi eleito, o Partido e o governo perderam a oportunidade de apresentar a Constituinte como um instrumento de mobilização e organização democrática para avançar nas reformas de base que são até hoje aspirações populares (reforma agrária, reforma política, reforma da mídia, reforma urbana, etc).
Depois, vieram as grandes manifestações de junho/julho de 2013 e Dilma acenou com o plebiscito pela Constituinte Exclusiva. Abandonou a ideia pela reação do vice Temer, da Rede Globo e de ministros do STF. Foi uma opção que resultou na política de conciliação, de alianças, e de convivência dentro desse modelo do presidencialismo de coalizão onde o Congresso tutela o Presidente a partir do controle da chamada governabilidade e o Congresso é tutelado pelo poder econômico que financia a eleição dos deputados e senadores. Apenas com a bandeira “Fora Temer, diretas já” para presidente a direção do partido e Lula não mostram uma saída para a superação do “carcomido sistema político”. Na minha opinião é necessário retomar imediatamente os comitês pela Constituinte, que foram organizados para a realização do plebiscito popular de 2014 e que contou com a participação de 8 milhões de votantes. Estes comitês poderiam se chamar agora “Comitês FORA TEMER, DIRETAS JÁ COM CONSTITUINTE SOBERANA”. Nós da Fração Comunista Internacionalista (FCI) vamos abrir essa discussão com outros setores que sabemos têm proximidade com essa posição.
Tribuna – A questão da Greve Geral não aparece na resolução do Diretório Nacional do PT, qual sua avaliação?
Anísio – A greve geral é uma necessidade desse momento. É um método de luta para mobilizar de maneira comum e na mesma data a classe trabalhadora, os jovens, os sem-terra, os sem-teto, os setores populares da cidade e do campo, os pequenos comerciantes, enfim, todos os que estão pelo “Fora Temer” e contra seu programa de selvagem regressão social. Essa maioria do país, em greve e mobilizada deve reafirmar ao mesmo tempo a defesa dos direitos, agrupar-se em torno de uma pauta e impor uma saída democrática que supere o atual governo usurpador e ilegítimo que assumiu através de um golpe. A resolução do Diretório Nacional do PT fala que “Somente a união do povo brasileiro poderá derrotar os usurpadores”, o que é mais do que correto, no entanto, ela esquiva-se de propor seu apoio a greve geral que já está em debate na CUT e em diversas organizações populares. Nesse ponto também se eu fosse membro do Diretório Nacional teria feito uma emenda propondo o apoio à greve geral na resolução. A resolução ainda não conclama os petistas a participarem do Dia Nacional de Luta no dia 22 de setembro, o que é um equívoco.
Tribuna – Como você vê a preparação da Greve Geral.
Anísio - Os atos “Fora Temer” seguem acontecendo e nesta quinta, dia 22, teremos o dia nacional de paralisação convocado pela CUT e outras centrais sindicais em defesa dos direitos e pelo “Fora Temer”. É provável que esse dia seja de manifestações massivas. Alguns falam que é um dia de esquenta para a greve geral e que em outubro teria outro esquenta para em novembro, então, acontecer a greve geral.
Contudo, não é possível fechar os olhos para o fato de que estamos na época de campanha salarial de grandes categorias nacionais como petroleiros, bancários e metalúrgicos (já com uma greve de bancários em curso e com petroleiros anunciando greve e os metalúrgicos um dia nacional de luta para o dia 29/09) e que a mobilização unitária desses três grandes setores da classe trabalhadora brasileira, com real peso na economia do país, poderia ser usada para vertebrar concretamente a greve geral nacional.
No entanto, vemos os metalúrgicos da CUT marcando o dia 29 de setembro como seu dia nacional de luta ao invés de se somar ao dia 22, marchando junto com a política divisionista da Força Sindical e da CONLUTAS, que além da data diferenciada não aceitam nem o “Fora Temer”.
É claro que a greve geral não pode ser a marcação de uma data e ponto, deve corresponder a uma estratégia de organização, mas o que me preocupa é que os atos “Fora Temer” acabem se esvaziando com o passar do tempo e, passadas as campanhas salariais, onde o jogo de braço com os patrões não será fácil, a oportunidade para a convocação da greve geral seja perdida, ao menos temporariamente. Clima para a greve geral existe. A realização de uma Assembleia Nacional com representantes das categorias em luta, dos sindicatos, das Centrais Sindicais, dos comitês Fora Temer, de assembleias regionais, da Frente Brasil Popular e Povo Sem Medo, do MST, da UNE, dos partidos da classe trabalhadora, poderia ser um momento para a definição da convocação da greve geral, que continua sendo algo urgente para barrar a ofensiva do governo golpista contra o povo. Não nos iludamos, passadas as eleições municipais as investidas por privatizar, retirar direitos e cortar gastos públicos vão se acentuar.